sábado, 31 de maio de 2008
Adoecer pelo câncer: um novo sentido de vida diante da finitude humana.
O diagnóstico e o tratamento do câncer, nos dias atuais, têm sido uma situação vivenciada por muitas pessoas, e causadora de muito sofrimento e angústia. A proposta desta pesquisa é uma reflexão sobre o sentido de vida dado pelo sujeito, após o seu adoecer de câncer.
Atualmente vivemos em um mundo onde a globalização trouxe benefícios e malefícios, obrigando o indivíduo a manter-se constantemente atualizado com as novidades, e exigindo deste uma adaptação social constante e eficaz, além de lhe impor maior resistência física e psíquica.
Este cenário implicou alterações na rotina de vida de cada sujeito, desde fatores relacionados à alimentação, com refeições mais rápidas e inadequadas, a uma má qualidade de sono ou tempo de descanso insuficiente, e até mesmo implicações nos relacionamentos, sejam estes afetivos, profissionais, sexuais, sociais, dentre outros. Todos estes fatores influenciam diretamente a qualidade de vida do sujeito contemporâneo.
Por outro lado, temos mudanças positivas advindas da globalização. Na área da saúde, por exemplo, podemos contar com o avanço da tecnologia, e o conseqüente surgimento de novas técnicas de diagnóstico e tratamentos mais eficientes, principalmente para as doenças crônicas, que antigamente eram consideradas fatais.
Em decorrência destes avanços, hoje o câncer não é mais uma doença fatal, mas sim uma doença crônica e tratável, principalmente quando o diagnóstico é feito precocemente. O sujeito, quando acometido por esta doença, além de se deparar com todo o estigma socialmente atribuído a tal enfermidade, necessita de auxilio médico específico, rápido e eficaz. Porém, na maioria das vezes este atendimento não está ao seu alcance, aumentando ainda mais todo o seu sofrimento.
É um momento difícil, pois, na grande maioria das vezes, este sujeito enfrenta longas filas da espera para ser atendido, além de sofrer com a incerteza, a ansiedade e a angústia provenientes do diagnóstico e tratamento. Ele se depara com a incerteza do que virá e com o medo da morte. Se há necessidade de internação para maiores cuidados e intervenções médicas, ele corre o risco de também acabar comprometendo sua identidade, sendo percebido pela equipe médica, na rotina hospitalar, como apenas mais um paciente com determinado órgão adoecido.
Durante toda esta fase, o sujeito passa a viver em função do seu diagnóstico e tratamento, alterando totalmente sua rotina de vida, com visitas constantes ao médico e hospitais, para avaliações e tratamentos medicamentosos, além das internações, quando necessárias.
Este período também é marcado por novos sentimentos que surgem neste indivíduo, vindo à tona novas atitudes e hábitos de vida diferentes dos vivenciados em épocas anteriores ao surgimento da doença. A doença passa a agir como um reorganizador da vida externa e interna deste sujeito.
O sentido atribuído à doença, e em contra partida à vida, é algo bem particular de cada sujeito, e está fundamentado em suas crenças, valores e vivências. Esta nova reorganização da vida é influenciada por este sentido, que acaba orientando suas mudanças internas e externas, e tendo influências na qualidade de vida deste sujeito.
Passar pela experiência de ter um câncer e poder compartilhar os sentimentos resultantes desta experiência angustiante que se defrontam, permite que o paciente entre em contato com suas angustias, inseguranças e medos. Alguns não conseguem se confrontar com tais sentimentos, por razões bem particulares. Outros expõem sua experiência com grande orgulho, por terem vencido tal doença, superado as dificuldades e alcançado a cura do câncer. Em todos os casos a emoção é sempre muito forte e presente.
Toda doença crônica é um atentado contra o poder ser, gerando inicialmente, no paciente, um movimento de fuga de si mesmo, e posteriormente um confrontar-se com a finitude que o angustia, mas que também o leva a um questionamento de seu existir.
Cada ser tem possibilidades de escolha fundamentadas em suas crenças, valores, experiências de vida e interpretações decorrentes delas. Um paciente adoecido por uma doença crônica, vive uma experiência intensa, carregada de significações e re-significações, que possibilitam a abertura para novas possibilidades de ser e fundamental o seu redirecionamento existencial.
Nas entrevistas analisadas em uma pesquisa realizada em 2007 com pacientes oncológicos, notamos justamente a existência destas novas significações e escolhas, constituídas a partir de um novo referencial vivenciado por estes pacientes. Estas mudanças ocorreram em modificações de comportamentos, hábitos e atitudes, visando uma melhor qualidade de vida e novas possibilidades de ser.
Todos os seres vivos estão submetidos à morte. E diante de uma experiência de adoecimento por câncer, em que o sujeito vive concretamente a possibilidade de finitude, percebemos que a vida é encarada com algo frágil, de imenso valor e fundamentada por um sentido para seu existir.
Pensamos que em grande parte do tempo, as pessoas direcionam seus esforços para a resolução de problemas cotidianos. Porém, diante de um fato ou situação que nos coloque próximos da morte, como o adoecer pelo câncer, ou como qualquer outra situação que nos coloque diante de nossa finitude, outras questões emergem para nossa reflexão: Para onde caminha a minha vida? Esta questão está presente em nossas vidas há todo momento, porém é o estar concretamente diante de nossa finitude, que desperta o ser para a pergunta pelo sentido de sua vida.
Diante destes questionamentos, o ser entende a vida como um campo de possíveis realizações, em que cada momento passa a ser uma nova oportunidade de realizar aquelas coisas cuja importância só é notada e revelada diante da iminência da finitude humana.
Um brinde à vida...
terça-feira, 20 de maio de 2008
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