segunda-feira, 16 de junho de 2008

O Início da Vida Escolar: A Importância do Autoconceito Positivo


A entrada da criança na escola significa uma grande ampliação em sua esfera de relações. Ela se depara com novas experiências que lhe permitem desenvolver uma visão de si mesma. Novas pessoas, adultos e crianças, que não fazem parte de sua família, farão parte deste novo círculo de relações, e ela compartilhará parte considerável de sua vida, estabelecendo trocas importantes.
Conforme afirma Bee (1996), é neste período escolar do Ensino Fundamental que as crianças vão aperfeiçoando suas habilidades sociais através dos contatos com os companheiros, e estabelecem crenças e atitudes a respeito de suas próprias capacidades. A autora também ressalta que estas crenças e atitudes desenvolvidas nesta fase da vida da criança, são aquelas que irão reger suas escolhas mais tarde, ainda na infância, na adolescência e na idade adulta.
Segundo Cubero & Moreno (apud Carneiro, Martinelli & Sisto, 2003), a escola também contribui para a formação do autoconceito geral da criança. Ela passa a receber avaliações de seus professores, pais e colegas sobre seu desempenho, habilidades, sucessos e fracassos acadêmicos, e a partir destas informações vai construindo uma visão de si mesmo como aluno.
Rappaport (1981) também compartilha desta idéia afirmando que a criança em idade escolar começa a experimentar situações e vivências que influenciarão na formação de seu autoconceito, fazendo-as se perceber como aptas, capazes, produtivas e competentes na realização de suas tarefas, ou não.
Sabemos que não existe uma causa única que possa determinar as dificuldades de aprendizagem, porém atualmente contamos com diversas pesquisas que indicam questões ligadas ao autoconceito, alterações afetivo-emocionais, motivacionais e de relacionamento interpessoal, como relevantes no desenvolvimento escolar.
Okamo (2004) em sua pesquisa realizada com 40 crianças de 7 a 10 anos de idade, aponta para a existência de uma correlação entre o autoconceito e o desempenho acadêmico. A autora afirma que conhecimentos e pensamentos positivos em relação a si mesmo, resultam no bom funcionamento individual, na motivação e na resposta individual à aprendizagem.
Outros autores como Chapman e Tunner (apud Okamo, 2004) também alegam a existência desta ligação, afirmando em seus estudos que aquisições positivas com relação à leitura, no início da escolarização, estão associadas ao desenvolvimento do autoconceito mais positivo. Já os efeitos negativos sobre o autoconceito das crianças repercutem em dificuldades iniciais na aprendizagem da leitura.
Segundo Carneiro, Martinelli & Sisto Carneiro (2003), a questão do autoconceito também pode ser apontado como “(...) um dos influenciadores neste processo devido à sua função na dinâmica da personalidade do indivíduo e de seu papel de regulador dos estados afetivos e motivacionais do comportamento.” Os autores completam seus pensamentos com informações de pesquisas que apontam para a idéia de que crianças que já vivenciaram várias experiências de fracasso escolar têm uma baixa expectativa de sucesso, pouca persistência na realização das tarefas e apresentam uma auto-estima rebaixada.
Através destas idéias e dados comprovados por esta pesquisa, podemos pensar que o rótulo atribuído a uma criança como tendo uma dificuldade de aprendizagem, acaba por retê-la nesta condição, reafirmando o sentimento de impotência e de insucesso diante das etapas a serem percorridas.
Pensando na interação como base para o desenvolvimento emocional, em que o sujeito passa a construir um julgamento de si mesmo diante do contato com o outro, a questão do rótulo e o estigma de “alunos-problema”, passa a ser um grande vilão nesta fase de desenvolvimento do sujeito. A criança passa a introduzir aspectos negativos em seu autoconceito, ou seja, justamente o que o meio e o outro julgam se si mesmo, reforçando ainda mais a questão da impotência, da dificuldade e da incapacidade de aprender e de realizar.
Por último, não podemos deixar de ressaltar a importância do professor diante dos aspectos internos que influenciam a criança nesta fase de desenvolvimento. De acordo com Cubero & Moreno (apud Carneiro, Martinelli & Sisto, 2003), o autoconceito negativo do professor contribui indiretamente para o autoconceito acadêmico negativo. Ou seja, se o professor nutre sentimentos de eficácia, de segurança e de realizações em seu cotidiano, tende a ser pouco ansioso e a instigar em seus alunos percepções mais positivas de si e dos colegas. Além disso, passa a motivar mais as crianças e ajudá-los a lidar com seus erros de forma construtiva, influenciando a criação de um autoconceito positivo em cada um deles.
Neste sentido, a falta de qualificação profissional dos professores, aliado a uma insatisfação generalizada neste segmento, devido a baixos salários e questões institucionais, faz com que este problema se agrave ainda mais, pois estes profissionais passam a não terem informações necessárias para detectar uma possível dificuldade escolar em algum aluno, e muito menos ter motivação suficiente e saber lidar com esta situação de forma produtiva.
O problema educacional atual em nosso país se agrava ainda mais se pensarmos na “promoção continuada”, medida atual do governo em que alunos da 1º a 4º sério do Ensino Fundamental não são mais reprovados, independente de sua evolução na aprendizagem. Devido a isto, não é difícil encontramos crianças na 4º série sem saber ler e escrever, estigmatizadas como “aluno-problema”, ou obtendo algum rótulo ligado a uma incapacidade ou deficiência mental. E como fica o autoconceito destas crianças, em uma etapa de vida socialmente tão importante?

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